Cheiro da saudade

Uma cesta de maçãs...

Para muitos; um simples objeto cheinho de frutas saborosas.

Para outros; deleite aos sentidos.

Para tantos; a simbologia do desejo, do pecado, de Adão e Eva gozando no paraíso...

Para mim é uma confidência singular. É a remanescente reminiscência da infância,  num passado ingênuo e aparentemente abstrato, porém muito concreto. Sim, eu sinto o que senti!

Nos silenciosos e alvos corredores de chão espelhado do colégio de freiras, vermelho como doces maçãs, lá estava, para mais um dia lânguido que demoraria a passar.

O aroma de casa, cheiro bom da mãe que apressava-se a trabalhar enquanto beijava-me carinhosamente, numa terna despedida.

- "Logo estarei aqui. Preste atenção na aula. Te amo, minha filha! Não chore que sua mãe rapidinho vem te buscar! Fica com Deus!"

E com os olhos rasos d'água pensava, enquanto a via ficar pequenina, até sumir no vasto aglomerado de pais: "porque não posso ser como filhote de canguru e ir com ela para todo lugar?""porque preciso vir à escola, se tudo o que aqui aprendo ela sabe e pode a mim ensinar?"

Só me restava agora aguardar o recreio para sentir o cheiro da fruta, amorosamente depositada na lancheira. E matar a saudade.

Passam segundos, gira mundo, roda vida... êta tempo que demorava a esgotar!!!

E passou. Tudo finda e eterniza-se!

Sem praticidade, sem pecado, sem gula... o cheiro da maçã continua como a representação magna da saudade.
E sempre a fará retornar.